domingo, 15 de maio de 2011

INDAGAÇÃO

Meu amor
Foi você que passou
No sol dessa manhã
E deixou as luzes de seus cabelos
Preguiçosas sobre o mar


Foi você  que derramou
O cinza sobre as nuvens
Para que elas despencassem  em chuva
Lavando-me o ranço dos dias

Meu amor
Foi você que pediu a lua
Para que descansasse
Nas costas da serra
Só para eu poder apanhar seu brilho
E correr na noite como um pirilampo
Te procurando entre luzes

Foi  você que ensinou
A dança das águas pro ribeirão
Para que ele se fizesse em curvas
Num bale mágico entre plantas e vento

Meu amor
Foi você que chegou assim calada
Nessas flores amarelas e violáceas de ipê
Segredando a primavera
Exalando tal perfume
Transformando-me a manhã




domingo, 17 de abril de 2011

CANOA VOADORA

Contemplai
Vejas meu amor
Quanta luz
Verve resplendor

Era como um sol Brilhante na manhã
Era um girassol sorrindo ao poente
Era cicatriz fechando com afã
Era uma atriz  encenando com a gente

No cair do noite a tarde ficou nua
quis subir ao céu
só pra tocar a lua
sem se aperceber que as nuvens era um véu

Com sofreguidão ignorastes a gravidade
Sem se aperceber que as nuvens eram o chão
Pisou e dançou  no solo da equidade
Nublado de lágrimas horizonte era visão

Num dançar sereno  encantado baila a quilha
O silencio inquieto vendo o novo navegar
Surge na baia penteando  o céu da ilha
Como a cantilena mais suave que o ar!

E os pés corriam entre gritos, pés  e praia
Num vasto delírio loucos por te acompanhar
E um risco de névoa suplantado a sua saia
Dançam à deriva entre a baia e o mar

Eu subi ao morro de onde pudesse olhar
Eu só fui buscar alegria duradoura
E passou tão perto que nem pude acreditar
Eu vi meu amor numa canoa voadora


Julio Cesar da Costa  abril 2011


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A MISTERIOSA MULHER

Antes que amanheça
nesta madrugada fria de insônia
Antecede-me este pressentimento de loucura
Antigos sonhos roubam-me a tranquilidade
Antes que o sol nasça sobre a aurora
Angústia me vem nessa hora
Ancora-me este sentimento como se fosse um veleiro estival
Antologia me surpreende em versos já esquecidos
Antiga estrela, és tu, ó mulher!
Anjo celeste
Antes me tivesse deixado voar na boca do vento
Angelical mulher de vastos sonhos
Antes menina
Andina guerreira
Antes que as ondas varram teu nome, direi
Anjo meu,ó miragem dos odes,
Graça ao mundo a tudo te dou graças
Costa marítima assim são teus cabelos
Ante toda a visão que morram os versos
Ante todo o suspiro da natureza
Ante a tua beleza
Ante a tua graça.


Julio Cesar da Costa-  1994
Cacos de mim Poesia arte

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Nós Dois



Belíssima Canção do Grande Celso Adoufo, interpretada por outro monstro, o mineiro Tadeu Franco,

CERTAS COISAS SUAS

                                                                                                                                                                Sei que
                                                                seria
                                                                seriamente
                                                                desnecessário
                                                                saber
                                                                sobre certas coisas
                                                                suas,
                                                                Saber
                                                                 se
                                                                 sentes
                                                                 saudades minha.
                                            Saber
                                            se  suas
                                            sintonias
                                            são as mesmas
                                            Saber
                                            se sustentas ainda
                                            as mesmas sutilezas

Não sei
se
seria capaz de amá-la
sucintamente
como te amei
um dia.
Se
suas sobrancelhas
aceitariam
suavemente
o sopro dos meus lábios

Só sei que
ainda suporto
a sincope
de suas lembranças
de súbito.

São solstícios
solavancos,
Saltaria
no carrossel
de suas saias,
e sairia brincando
saltando.

                                        Eu sei
                                        que
                                        que seria
                                        desnecessário
                                        saber
                                        sobre certas coisas suas.




Julio Costa





quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

DISTÂNCIA

Há certo tempo
tento furtar sua imagem
no papel canson
Não sei desenhar
procuro no mapa estendido sobre a mesa
o local que acolhe seu destino
cartas cartográficas
linhas infinitas
pergunto-me porque a saudade consome
por que nos diminuímos
e se agiganta a figura implacável do outro
e admiro seus gestos mais simples
e admiro suas feições mais comuns,
A chuva costumeira é a mesma
trazendo frio ,fazendo lama
envolta em edredão na planície da cama
que para sempre espera-te.
Imagino-te perdida na tempestade do chuveiro
afastando o nevoeiro do espelho,
absorta em sua nudez.
Não apazigua-me as mensagens
não contenta-me os recados
deparo-me com seu retrato
estendido ao criado mudo
sorrindo-me por um segundo.




Júlio Costa 2008

sábado, 22 de janeiro de 2011

E SE EU TE VISSE HOJE

E se eu te visse hoje
com um sorriso no canto da boca
E se meus dedos
não alcançassem
seus cabelos caindo sobre os olhos
se esses mesmos olhos castanhos
pedissem aos meus para fitá-los
E de meus lábios trêmulos
não brotassem palavras
O teu abraço me enchendo de medo
e nós imóveis
mantendo uma distância
mas de alguma forma um circuito de movimentos
bombardeassem  nossas almas
E se a música cotidiana do silêncio
soasse tão boa
e o lilás das flores de amor-perfeito
tomassem suas unhas
E se sua cintura coubesse ainda
na forma insólita de minhas mãos
para que eu a esculpisse nas pedras
que cada dia apanho
e as empilho...
Se eu registrasse todos os momentos
que te procurei  entre estrelas
E a maneira como se perfume
permaneceu guardado comigo
E se teus pés pequenos precisassem
do descanso da grama
eu te reapresentaria ao verde das serras,
a silhueta das montanhas, e a  continência dos rios,
para que sussurrassem em seus ouvidos
os mantras que compus sob a chuva,
E se ajoelhasses contemplativa diante do mar
enquanto as águas tímidas rasteiras tocassem seu corpo
e as ondas dissessem o quanto te esperei.

JULIO COSTA

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

BRADO DE AGRADO

Existe um brado de agrado
saltando dos lábios teus
meus dias já estão marcados
gravados em seus camafeus!

Eu te encontrei
à beira mar
esperando um barco
para ir a Marujá
te perguntei
não respondeu,
o teu silêncio vale mais  do que o meu!

Existe um canto em acalento
saindo da tua mão
não te divido o meu pranto
concebo meu coração!

Eu te encontrei
tava embarcado
tomara  um barco
para a vila do Prelado
eu te olhei
você sorrio
eras tão bonita
quantas as águas desse rio!


Júlio Costa

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

BORBOLETAR

Puro casulo
rompe asa
de seda multicor
baila ao vento
Aquarela camufla-se
entre flores
Néctar embriagar-se do perfume
pólen
Alçar longos voos
liberdade
transitar entre montanhas
liberdade
Inteirar-se ao ar
conquistar , absorver os raios
realçar as cores
Então transfiguram
viajar
o verbo renasce no sonho
voar, voar
borboletar!

Julio Cesar Costa- "Cacos de Mim" 1994




                            Interpretação de Carlos Malungo para o poema    
                            "borboletar", uma bela composição do talentoso
                            cantor e compositor mineiro, radicado em      
                            São Paulo, meu parceiro de longa data.      

ACORDA

            JULIO CESAR COSTA - DA SÉRIE PROCURANDO UM "P" EM PEDRINHAS 2008

sábado, 8 de janeiro de 2011

GRAÇA

Da vida, perdi de todo o gosto
desde o dia
em que me deixastes,
ó da Graça,
por um medíocre pressuposto
ou por medo de meu amor latente.

Ai quem me dera
ter em mim
essa volúpia
desse teu amor em ânsia
eu voltaria então,
a nossa pura infância
e te roubaria um beijo
primeiro desejo
desse meu amor insano.

Da vida, perdi de todo o gosto
desde o dia
em que não vi mais seu rosto
tua face pálida
na moldura opaca
do artista plástico.



Júlio Costa ( Cacos de mim- poesia arte 1994)

SONETO DE TODO AMOR QUE SONHEI

Foste um dia todo amor que sonhei
Foste um desejo transparente
Toda lágrima que derramei
A viva luz do meu sol nascente.

Foste na vida meu maior momento
Muito mais que paixão, foste amor,
Foste também sofrimento
que soprou-me no vento numa lástima dor

Foste toda a poesia
que arranquei de meu peito
e assim já sem jeito te abracei não sabia

que no fim desse dia
padecia em teu leito
nem amor,nem paixão, só a morte queria.

Júlio Costa ( Cacos de Mim) poesia arte 1994