quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

LIRA DOS VENTOS




A LIRA DOS VENTOS

Quando o amor encontrou
Minha face no chão
Resgatou-me, ergueu-me
Como um redemoinho
Levando um papel.

E eu ainda sem forças
Escorei-me nas encostas dos morros
E deixei que a chuva escorresse entre meus dedos
Como uma grande árvore que faz sua própria intempérie.

E a claridade da manhã me fez ver
Quão diferentes tons verdes cobriam o cabelo das matas

Quando a amor encontrou
Minha face no chão
Arrastou-me, jogou-me
Como uma enxurrada
No fim de estação...

Eu pude caminhar sobre as águas
E ver-te ninfa entre ninfeáceas
Brancas como arredondados seixos
Amarelas como broas de pétalas
E vermelhas como céu da tarde.

E das costas do outeiro
Pendurei-me nas bordas do arco-íris
E voei como voa  um cuitelinho
Só para sentires
Mesmo que tardiamente o
No ruflar de minhas asas.
A cantiga cantada da lira dos ventos.














sábado, 29 de dezembro de 2012


A HORA VESPERTINA.

Fostes um dia
Um oceano como um corpo contínuo sobre a terra
E da superfície de sua pele morena morada dos deuses
Eu tingi todas as folhas adormecidas sobre os pés das árvores...
Agarrado em sua cintura como um vento leste
Eu dancei a ciranda da hora vaga rodopiando
Como um pião amordaçado á fieira nas mãos de um menino levado.
E bebi da sua boca um beijo gelado de água cantada na bica
E nos deliciamos com o som e sabor das jabuticabas explodindo entre os dentes
E deixei no lado direito presa em seus cabelos uma flor branca de dama da noite
Que embriagou todo caminho com seu doce perfume.

Fostes um dia
Um olho d´água borbulhando entre finas areias
E da silhueta de seu corpo delgado como vagens maduras de ingá
Eu te vi um ribeirão com um vestido de gotas e bainha alongada de espumas
Onde as folhas se arrastavam junto à pequena correnteza
E sem que percebêssemos já eras um rio rodeado de curvas
E cantavas a melodia sublime da tarde cansada de sol
Onde as cigarras solavam contínuas
E as garças brancas num revoar lento e coreográfico
Arrastavam a cabeleira negra da noite sobre as costas do vento
Coberta de pirilampos misturando-se ás estrelas.


Júlio Cesar Costa



segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Onze horas- Minha Flor.


Ela só abre
As onze horas
Como é bonita
A minha flor

Dançando ao vento
Tão graciosa
Vestida em cores
É a minha flor

Ela acorda as onze horas
E a maquilagem é anterior
Borrado o rímel
Tapa as olheiras
É tão bonita a minha flor

Fuma um cigarro
Na penteadeira
Fitando o espelho
Com dissabor
Prende os cabelos
Lenço vermelho
Como é bonita a minha flor

Mergulha o corpo nu na banheira
Lendo calada Leviatã
Deita  manhosa na espreguiçadeira
Tendo almoçado Lexotan
Segura o fone tapa as orelhas
Desafinada com esplendor
Canta sorrindo ,canta manhosa
Como é bonita a minha flor.

Ela só abre
As onze horas
Ela é tão tímida
 A minha flor

Esconde o rosto
Entre as vidraças
Prende os cabelos numa tiara
Solta um perfume por onde passas
Como é bonita a minha flor.














sábado, 7 de julho de 2012

MELODIA


Esta é a ultima vez
Que vou delinear as montanhas da memória
Para lembrar de ti
A cerca de coisas que já se perderam na latitude do mar dos seus cabelos
Que são como arvores que despencam suas flores ao cantar dos ventos.



Esta é a  ultima vez
Que vou pedir para chuva que reprise
sua canção cantada na cabeleira suave das copas
e que dessa vez eu entenda os versos
claramente solfejados em meus ouvidos
como gotas que trabalham prazerosamente  a tornarem-se estalactites.



Não vou apanhar o brilho que mandastes qual estrela  ébria
Para que esta me guie na sublimação do teu ser que espero
Como um viajante que guardou todas as curvas de um caminho
Num velho surrão descansado a tira colo
E na parte mais alta da montanha deixou-os partir
Agarrando-se nas brumas que seguiam  rumo ao céu.



E quando não tiveres mais
Nenhum outro pássaro cantando  em tua janela
Aquela cantiga comprida do dia
Será meu riso um canto  entristecido
Que te fará anunciar aos que outrora me aviltavam
Que ainda sei arrancar o éco sonora
Das raízes tabulares de grandes árvores
E dele eu fiz minha canção recheada de silêncios.


    














domingo, 8 de abril de 2012

OS VERSOS QUE GUARDEI PARA TI

Os versos que guardei para ti
São suaves como rendas de espumas
São leves como um revoar de plumas
São soturnos como canta um juriti

E deles eu pranteio a minha lousa
Avivo meu olhar no seu encanto
Aceito o suplicar de um acalanto
De ave que balança ali e pousa

E quando a tarde chama já cansada
E entrega a noite as chaves da penumbra
Procuro aurora na luz da longa  estrada

Recolho as folhas secas junto ao dia
São trechos, versos que a ti deslumbra
E chora o alaúde no jeito que eu pude te acordar,poesia.

Julio Cesar da Costa
2012


um chão no caminho

Um chão no caminho
Que só pode
Por via das duvidas ser pisado
Então passes!
Tens a força do vento
E és bem melhor que a perícia dos galhos
Que se sincronizam e cantam
Em face da ação desse mesmo vento.



Deixe que as estrelas indiquem o caminho
Além do cruzeiro do sul
Enquanto uma garça branca cruza o céu
Enquanto os piralampos cintilam luzes verdes nos pastos
E aranha d água ensaia um balé na superfície entre miasmas
Enquanto ao raios claream o céu em abstratos traços.



Deixe que eu te encontre na vazão da maré
E arranque do meu peito todas essas inconstâncias
Para que eu pare de me indagar
Porque mesmo tão distante
Mesmo além mar
Teus cabelos continuam esvoaçantes entre galhos
E entre folhas e flores de ipê descansadas ao chão.



Deixe tocar a musica da dor uníssona
Acorde todas os contrafortes das serras
Todas as pedras que calçam as trilhas
Avise-os que estão voltando
Não tenho mais a valentia de outrora
Mas conservo a alegria das tardes surradas de rubro
Onde o sol se punha vagarosamente passeando
sobre o penteado das árvores altas e  quietas.


Julio Cesar da Costa




A CONTA

Faz de conta
Que essa conta não é minha
Não posso lhe pagar com conchas
Nem com colares de capiá
Lembra quando aprisionávamos flores
Nas páginas aleatórias dos livros
Lembra quando perseguias as ondas
Sonhando com um ano novo melhor,
Segurando a saia branca
 como rosas boas para quebrar quebranto.



Faz  de conta
Que outra vida
já esta pronta
Que posso deixar essa máscara de alecrim
Rever-te colombina
Me entregando seu sorriso.



Lembra ainda do vento da beira mar
Despenteando-lhe os cabelos
E minha maneiro insólita de tocá-los
Lhe tirando sobre os olhos.



Faz de conta
Que essa conta não é minha
Não posso lhe pagar com versos
Nem com cantigas
Esqueça essas marcas de expressões
Não são por ti
São antigas...


Julio Cesae Costa