terça-feira, 5 de outubro de 2010

UM TANGO PARA ELIS


Achei a porta entreaberta
entre o céu e o sonho
entrei, e tu já estavas lá
impressionou-me,
uma imensa cabeleira transformada em espumas.
O mar é mais uma menina.                                                                                                                           
Há tantas estrelas  nos conduzindo
para estarmos entre elas,
e a noite é uma poetisa que bebe vinho
em taça branca de antúrios,
seu sorriso enfatiza o amor perseguindo
grilos na relva.
Faz horas que entrei
estive em tantos caminhos e não a encontrei,
os pés queimando na areia alva e fina
do começo da praia,
O sol sim, é senhor das coisas
das mais radiantes às sombrias
e deixas-te esconder-te por detrás do chapéu
enfeitado com fita vermelha de cetim
e bronzeia-te por  inteira
dourando seu corpo em carinhos intermináveis.
O sol se foi sem dizer adeus...
A noite voltou
agora envolta no seu manto cor de prata
declamando poemas, cheirando a incensos raros
cantando canções jamais ouvidas.
Mansamente chegastes em silêncio
a lua cheia iluminava seus passos
como se abrisse caminho.
Pude ver a porcela  fina do seu rosto
seu sorriso expandia-se como uma
maré de fim de tarde
o vestido negro,as coxas nuas,
os pés timidamente descalços na areia.
Encontrei-te
a noite já ébria calou-se,
as sereias acomodaram-se na ponta de um lajedo
as ondas arremessavam-se contra as pedras
trazendo um som de orquestra
e das bocas das sereias imediatamente
soava um canto lindo de se ouvir,
a princípio indefinido,logo após,
tinha um som binário
com compassos de dois quartos
sim, era um um tango,orquestrado pelo som das ondas, vento e pedras.
Seus olhos brilharam,
e nos lançamos numa frenética e envolvente dança
de movimentos precisos, sensuais,envolventes,
"como um pensamento triste' que nos induzia á dança,
e a mesma dança , avança num duelo de corpos e
sorrisos sincronizados,
um tango como jamais viu-se igual.
os pés molhados pela água
multiplicando as pegadas
seu sorriso sincopado
parece agora cansado
tal qual beijo preguiçoso,
langoroso.
Até cairmos exaustos e encharcados na areia
depois rimos, gargalhamos e dormimos
cantando...


Júlio Cesar da Costa 
Poética da Predilecção

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